Plataformas colaborativas lutam contra a discriminação e o assédio
- Nós
- 3 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de nov. de 2019
As redes trazem mais segurança para os dois lados e exploram a diversidade cultural
Preconceitos, violência e assédio sexual ainda muito são comuns atualmente – por mais que a maioria dos aplicativos e redes tenha um serviço de avaliação, esses são os principais motivos pelos quais muitas pessoas deixam de viajar sozinhas ou de usar algumas plataformas de economia colaborativa. Afinal, nunca se sabe quem está do outro lado da tela.
Carlos Humberto da Silva sempre gostou de receber gente em casa e, quando comprou um apartamento, se cadastrou em plataformas digitais para disponibilizar seu espaço a hóspedes. Mas, tão logo que começou o aluguel por temporada, sentiu a discriminação racial na pele negra – mesmo estando em um apartamento de alto padrão em um dos bairros turísticos de melhor localização no Rio de Janeiro. Para ajudar outras pessoas a evitar este tipo de situação criou a Diaspora.Black, plataforma de estadia muito parecida com Airbnb, mas com o objetivo de proporcionar mais segurança e bom atendimento aos hóspedes e anfitriões, independentemente da etnia, orientação sexual ou religião.
A Diaspora.Black foi criada em 2016 e já está presente em 45 países e 150 cidades. Além das hospedagens, a plataforma oferece pacotes de passeios de experiências culturais e um programa com certificação para ensinar as melhores práticas. “Oferecemos esse serviço com uma forma de alcançar o nosso objetivo que é oferecer para o turista e para o hóspede a segurança do melhor atendimento na sua estadia”, explica Antônio Pita, co-fundador e COO.
“A mulher precisa criar toda uma rede de apoio virtual e local para se sentir mais segura."
Também foi por conta das muitas experiências ruins com assédios em viagens que Jussara Pellicano decidiu desenvolver a Sisterwave – plataforma para mulheres viajantes. “Fui percebendo ao longo do caminho que é muito diferente uma viagem feminina de uma viagem masculina. A mulher precisa criar toda uma rede de apoio virtual e local para se sentir mais segura”, explica a CEO e fundadora da Sisterwave.
Com a ideia de criar uma rede global para mulheres viajantes, em 2018 Jussara juntou todos os seus esforços para desenvolver o app, que hoje está em 80 cidades do Brasil, com 212 anfitriãs e uma comunidade de 4 mil mulheres. O objetivo é possibilitar conexão entre mulheres para que elas possam “desbravar o mundo com mais liberdade, mais autonomia e uma apoiando a outra”. Aliás, o nome da plataforma significa “uma onda de irmandade feminina” e tem como o principal pilar a sororidade, “em que uma mulher reconhece a outra como irmã e não compete, mas ajuda e colabora”.

Por mais focadas que sejam em grupos de pessoas específicos, a Diaspora.Black e a Sisterwave não são plataformas excludentes. “Temos uma base de 20% dos nossos anfitriões que não são negros e que recebem solicitações de reserva diariamente. Da mesma forma, temos também hóspedes brancos que entendem a nossa plataforma como um espaço primeiro de promoção de diversidade de trocas, de encontrar pessoas que podem apresentar cidades e lugares por outras perspectivas e contar outras histórias, e assim estabelecer um intercâmbio cultural bastante rico para os dois lados”, conta Pita.
Quem vai de Sisterwave também pode viajar com homens, mas por motivos de segurança, é necessário avisar: “Deve ser sinalizado dos dois lados se alguma das duas não quer receber homem. Já fica descrito no perfil da anfitriã se tem homem na casa dela ou se ela aceita receber homem. Para a viajante, há um filtro que ela pode escolher sisters sem homem em casa e, se estiver viajando com um homem, precisa sinalizar”.
A geração de renda para anfitriões e operadores de experiências turísticas é um outro ponto da Diaspora.Black que representa impacto. Segundo Pita, algumas pessoas têm até 40% de aumento de ganho mensal a partir do momento em que passam a oferecer o serviço dentro da plataforma. “Já é um grande impacto visto o momento de economia delicado que estamos vivendo, em que há muitas pessoas desempregadas e que o aluguel de espaço compartilhado se tornou uma forma também de ampliar a renda”.
“É um trabalho de ressignificação do turismo.”
Valorização da cultura
A Diaspora.Black, para o fundador, é um espaço para a valorização da cultura e tem como principal pilar a diversidade: “a ideia é abrir portas e caminhos para que as pessoas se encontrem e construam pontes entre diferentes culturas. Para que se aproximem, conheçam mais um do outro, valorizem a identidade, as suas referências culturais, suas histórias em qualquer cidade”. Ele explica que é um “trabalho de ressignificação do turismo”, que busca preservar a cultura e o legado de matriz afro-brasileira de cada cidade.
Segundo Jussara, essas novas conexões proporcionam uma oportunidade de desconstruir paradigmas e preconceitos existentes na cultura e na mídia, tanto sobre um lugar, quanto sobre a cultura e pessoas. Isto porque é possível ter uma breve convivência com pessoas que têm afinidades, mas experiências de vida diferente. “Nada melhor do que uma mulher falar para outra mulher como ser mulher naquele local e ser acolhida por uma outra mulher que vai mostrar as partes positivas e negativas daquele destino”.
Segurança redobrada
Para evitar situações ruins e proporcionar mais segurança, a Sisterwave possui um sistema de avaliação bem rígido no momento do cadastro: é preciso enviar fotos e documentos que passarão por uma validação. Se o CPF não for válido ou as imagens tiverem algo suspeito, o cadastro não será aprovado e ficará a critério da candidata à sister tentar novamente ou não.
A Diaspora.Black também faz uma checagem das informações fornecidas, monitora o check-in e check-out e ainda disponibiliza uma equipe 24 horas por dia para resolver qualquer situação de conflito que vá contra os termos do aplicativo. “A segurança é um fator que demanda muito a nossa atenção e que trabalhamos com muita seriedade. Temos feito investimento e uma dedicação muito grande para garantir a melhor experiência e qualidade do serviço para esse cliente”.
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